Folha de São Paulo, 11 de Julho de 1999

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INVESTIGAÇÃO: Senador oposicionista diz que já há indícios para chamar ex-secretário-geral da Presidência para depor à comissão; ACM diz que não.

 

CPI acha mais ligações de juiz a Eduardo Jorge

 

Colaborou Raquel Ulhôa, da sucursal de Brasília.

Lula Marques 4 mar 99 Folha Imagem

O juiz Santos Neto, ex-presidente do TRT-SP, em depoimento na CPI que apura irregularidades no Judiciário

FLÁVIA DE LEON da Sucursal de Brasília

A CPI do Judiciário encontrou mais 91 ligações do ex-presidente do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo Nicolau dos Santos Neto para o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge Caldas Pereira. Ao todo, já são 117 telefonemas.

Anteontem a comissão identificou 26 chamadas, feitas nos anos de 97 e 98. Foram 17 chamadas para os telefones de Jorge no Palácio do Planalto, 8 para seu escritório particular e l para sua casa.

As 91 ligações encontradas ontem foram feitas em 95 e 96. Para o senador José Eduardo Dutra (PT-SE), os telefonemas são suficientes para justificar a convocação de Eduardo Jorge e para concluir que Santos Neto mentiu à comissão.

Quando depôs na CPI, ao ser questionado sobre seu relacionamento com Eduardo Jorge, ele afirmou: "Na qualidade de presidente do tribunal, tratávamos de nomeações de candidatos e vínhamos com outros presidentes ou outros Juízes para expor o assunto".

Os telefonemas encontrados, porém, não coincidem com sua gestão na presidência do TRT-SP (90-92): ele era o presidente da Comissão de Obras do tribunal.

Segundo os juízes que sucederam Santos Neto na presidência do TRT-SP, ele foi dispensado das funções de juiz para dedicar-se à liberação de verbas para a obra do Fórum Trabalhista paulista.

Para o presidente do Senado e patrono da CPI, Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), os

telefonemas não são suficientes para vincular Eduardo Jorge a Santos Neto. "Cabe à CPI procurar outros indícios para ver se existe alguma coisa. Existindo, vai ser apurado."

O Fórum usou RS 230 milhões de verbas do Orçamento —que é aprovado pelo Congresso anualmente, mas cuja liberação das verbas depende do Executivo.

Eduardo Jorge telefonou do exterior para falar sobre sobre as 26 ligações às 13h de ontem. Os outros 91 telefonemas ainda não haviam sido divulgados. Ele disse que as ligações para seu gabinete são "nor mais". "As pessoas telefonavam antes de encontrar-se comigo." Segundo Jorge, eles tratavam da nomeação de classistas. Sobre os telefonemas para seu escritório particular, disse não se lembrar.

Ele afirmou jamais ter tratado da liberação de recursos para a construção do Fórum ou sobre doações —ele coordenou a campanha reeleitoral de FHC. Questionado sobre o telefonema dado pelo juiz para sua casa, na véspera da eleição, ele disse não se recordar.

Ele afirma que nas ligações feitas por Santos Neto eles "sempre trataram de assuntos administrativos regulares e normais" e que jamais fez qualquer coisa que maculasse sua vida pública.

O porta-voz da Presidência, Georges Lamazière, afirmou que FHC "nunca teve conhecimento de amizade alguma entre o juiz e Eduardo Jorge". "De qualquer forma, essa não é uma questão que cabe ao presidente (responder), mas ao ex-secretário explicar", disse.

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