POLÍCIA FEDERAL: CASOS INCRÍVEIS!

Folha de São Paulo, 03 de Julho de 1998

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Acusado no Paraná ganha promoção

da Agência Folha, em Londrina

Oito processos que correm em varas federais do Paraná envolvem sete agentes e três delegados da Polícia Federal. Um dos delegados, o diretor da Divisão da Polícia Federal em Foz do Iguaçu, Aírton Nascimento Vicente, 46, responde a uma ação penal acusado de "facilitação de contrabando".

O processo contra Vicente, na 2a Vara Federal de Foz, não impediu sua nomeação para ocupar o cargo de adido policial na Embaixada do Brasil em Assunção.

A nomeação corresponde a uma promoção dentro dos quadros de carreira da Polícia Federal. Vicente disse ontem que ainda não sabe quando assumirá o novo cargo.

Ele afirmou que o processo contra ele foi uma "orquestração". Ele acusou o então procurador da República em Foz, Carlos Fernando Santos Lima, de tentar "aparecer na Imprensa com a denúncia". Segundo Vicente, a denúncia, "sem provas, foi feita por um agente que responde por crime de estelionato".

A denúncia contra Vicente foi feita pelo agente Adonai Lucena, hoje 

trabalhando na PF em Natal (RN) e envolvia policiais civis.

No final de 1996, Lucena apreendeu um carro na ponte da Amizade (que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este) que supostamente teria uísque contrabandeado.

No carro, estavam delegados da Polícia Civil que participavam de uma convenção em Foz do Iguaçu. Segundo Vicente, "não havia uísque no carro e os delegados foram liberados".

Em 4 de junho do ano passado, Carlos Fernando Santos Lima ofereceu denúncia, acatada pela 2a Vara Federal de Foz, contra Vicente com base no artigo 318 do Código Penal, que trata de "facilitação de contrabando ou descaminho". O artigo prevê de três a oito anos de reclusão.

Atualmente, em Curitiba, o procurador Santos Lima disse que a denúncia foi "fartamente comprovada, com testemunhos de agentes e fiscais da Receita Federal que assistiram à apreensão". Segundo o procurador, "é inexplicável que um policial que esteja sendo processado por um crime seja nomeado para um cargo de confiança pelo governo".

Jornal do Brasil: 27 de Março de 1989

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Georges Sellinas denuncia superintendente da Polícia Federal de São Paulo

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A denúncia de Georges Sellinas não é a primeira que compromete a Polícia Federal.

Foto: Zaca Feitosa

ContrabandistasVeronezziFoto.jpg (1649 bytes) Veronezzi garante que vai abrir inquérito.

Foto: Ariovaldo Santos - 13.2.86

SÃO PAULO — "O superintendente da Policia Federal em São Paulo protege contrabandistas." A denúncia, do engenheiro industrial Georges Sellinas, é o exemplo mais acabado das surpreendentes situações que surgem quando azedam as relações promíscuas entre a policia e seus colaboradores ou informantes. Sellinas. um antigo "informante da Policia Federal", segundo sua própria definição, acusa o superintendente do Departamento de Policia Federal em São Paulo, Marco Antônio Veronezzi, com base numa fita cassete na qual está gravada uma conversa telefônica entre o delegado e um contrabandista.

Essa acusação do grego naturalizado brasileiro Georges Sellinas, há 15 anos proprietário de uma empresa de proteção de segredos industriais e militante voluntário do ramo de informações policiais há quase uma década, coloca em dúvida tanto a segurança dos telefones da Policia Federal quanto a honestidade de seu atual superintendente em São Paulo. A fita, resultado de uma escuta clandestina (o popular grampo) no telefone do gabinete da Superintendência da Policia Federal. resume-se num pedido de Celso, o contrabandista, para retirada de um grupo de policiais federais da empresa Transdata, na qual se realiza, no momento da ligação, uma fiscalização conjunta com a Receita Federal sobre contrabando.

A certa altura do diálogo. Veronezzi diz que "se for só da policia não vai ter problema", acrescentando: "Mas se a Receita estiver junto eu não vou ter como tirar eles de lá". A conversa termina com Veronezzi comprometendo-se a averiguar a situação e com Celso dizendo que voltará a ligar .

Os personagens desse enredo são, além de Veronezzi, que ouviu a fita na semana passada e se lembrou dessa conversa mas não se recorda exatamente quando ela aconteceu, o delegado Armando Panichi Filho, na época lotado no gabinete do DPF em São Paulo e primeiro e falar com o contrabandista. e o ex-agente policial Celso Cipriano, que revela na fita ser o encarregado de providenciar material contrabandeado para a Transdata, empresa de processamento de dados da Transbrasil cujos telefone e endereço são citados durante o diálogo. Celso foi funcionário da Transbrasil, mora nos Estados Unidos e costuma vir ao Brasil de 15 em 15 dias. A Transdata deixou de existir e foi incorporada pela Transbrasil em setembro do ano passado.

Para sustentar uma outra denúncia, Sellinas, que se celebrizou no ano passado por denunciar o suborno de l milhão, de dólares a delegados da Policia Federal no caso do Banco do Estado de São Paulo (Banespa) e reivindica a descoberta de boa parte das fraudes do INAMPS, cita uma Investigação Policial Preliminar (IPP) que teria sido aberta e arquivada por Veronezzi apenas para forçar a empresa Resegue, produtora de óleo comestível, a pagar uma divida ao Banco Nacional. Chamados a depor no IPP n° 120012-87, os responsáveis pela empresa, atemorizados, pagaram a divida de 5 milhões de dólares, em prejuízo de outros credores, de acordo com a denúncia, pois a Resegue era 

concordatária. Há uma terceira acusação, baseada em documentos sobre a apreensão de 24 mi dólares no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, com liberação do passageiro por ordem do superintendente. Neste caso, a Policia Federal deixou de realizar um flagrante numa situação de evasão de divisas. Estas duas últimas denúncias e outras acusações a Veronezzi foram relatadas por Sellinas numa carta ao Ministério da Justiça. Justificadas pelo DPF, foram arquivadas por despacho do ministro José Fernando Eichemberg, secretário-geral no tempo de Paulo Brossard em exercido na época. O inquérito sobre os dólares ainda não foi concluído, afirma Veronezzi.

Tudo isso é um pacote preparado por Sellinas contra Veronezzi desde que estourou o caso de suborno, dentro da investigação sobre o escândalo financeiro no Banespa durante a presidência do amigo do governador Orestes Quêrcia, Otávio Ceccato. O começo deste derrame de informações procurando comprometer a Policia Federal coincide também com a descoberta do envolvimento de Sellinas com contrabandistas e estelionatários. Ou seja, trata-se de uma briga em que os dois lados dizem ter muito a mostrar sobre as ilegalidades do outro.

Veronezzi considera a denúncia comprometida

"Tira o pessoal de lá. Eu vou ai hoje, sento com você amanhã e esclareço o que os caras estiverem procurando", diz Celso Cipriano a Marco Antônio Veronezzi, falando de Miami (no estado americano da Flórida), durante o telefonema gravado na fita entregue por Georges Sellinas ao JORNAL DO BRASIL.

"Veja bem, se for só da policia, não vai ter problema, mas se a Receita estiver junto eu não vou ter como tirar eles de lá, entendeu?" — responde o superintendente num trecho logo adiante.

Essa fita cria dois problemas para o delegado Veronezzi. O primeiro é o pedido de favorecimento ilegal e o segundo, o fato de alguém ter grampeado telefone de seu próprio gabinete. Entrevistado sobre as duas questões na semana passada, depois de ter ouvido integralmente a conversa gravada e solicitado a fita para instaurar um inquérito, Veronezzi explicou que só atendeu ao telefonema por deferência ao ex-agente Celso e que a inexistência da gravação do segundo contato entre eles, realizado minutos depois, compromete o entendimento de toda a situação.

O superintendente afirmou não ter ordenado a retirada dos policiais da Transdata e que comunicou isso a Celso no segundo telefonema. Veronezzi disse também que não pediu investigações ou a intimação de Celso, que no telefonema se confessa contrabandista, porque isso era função do delegado que comandava a fiscalização na Transdata.

Quanto ao grampo em seu telefone, Veronezzi disse não estar preocupado, "porque aqui não se tratam questões que possam comprometer a alguém", mas garantiu que vai instaurar inquérito para investigar o problema. Segundo Sellinas, foi o delegado federal José Benedito de Oliveira Sousa quem lhe entregou a fita com a conversa grampeada.

MAIS UM AMIGO DO VERONEZZI:

Diário Popular, 25 de Fevereiro de 1992

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Juiz marca depoimentos contra delegados da PF

O juiz Otávio Peixoto Júnior, da 2» Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo, marcou para os dias 9. 10, 11 e 12 de março, às 13h00', os depoimentos das oito testemunhas de acusação contra dois delegados e dois agentes da Policia Federal, apontados como envolvidos em desvio de contrabando. Há duas semanas, os delegados Antônio Manuel Costa e Marcus Vinícius Deneno e os agentes Marcelo Fernandes Atala e Newton Martinez. além dos contrabandistas Antônio Luiz de Moraes, o Toninho Farmacêutico, e Luiz Carlos Roman Rodrigues, foram interrogados por Peixoto Júnior e negaram a acusação.

Quatro das testemunhas arroladas são os delegados da Corregedoria da Policia Civil Ademar Pinheiro Brisolla, Joaquim Eiras Garcia e Luiz Antônio Resende Rebelo e o investigador Pedro Soderini Ferracciu. responsável pela prisão dos agentes Atala c Martinez e também Toninho Farmacêutico, no dia 25 de novembro, em uma chácara em Cotia, com parte do contrabando de aparelhos de som, desviado. A mercadoria tinha sido apreendida dois dias antes em um 

contêiner, no interior de um depósito no  bairro de VilaEma, na Zona Leste da Capital.

As outras testemunhas são o motorista Benedito de Oliveira Rocha, contratado para transportar a mercadoria do depósito para a chácara de Toninho Farmacêutico, em Cotia, recebendo pelo trabalho Cr$ 120 mil, e também o advogado Edson Garcia Fios! e o agente federal Júlio César Justo, que estiveram no depósito da Vila Ema no dia 23 de novembro, logo após a PF ter apreendido o contêiner com o contrabando. DENÚNCIA

A última pessoa arrolada como testemunha é o ex-policial civil César Rodrigues, o Garoto. O depoimento de Garoto é considerado importante porque foi ele quem teria, após um trabalho de investigação denunciando a chácara de Cotia para os policiais da Corregedoria da Polícia Civil. Rodrigues, na época, foi contratado pelo comerciante chinês Law Kim Chong, apontado como um dos maiores contrabandistas de São Paulo, que, uma semana antes do desvio da mercadoria, teve 320 mil relógios apreendidos pela PF.

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